...a todos nós que amamos a negritude, que ousamos criar no dia a dia de nossas vidas espaços de reconciliação e perdão onde deixamos vergonhas, medos e mágoas do passado, e nos seguramos uns nos outros, bem próximos. Somente o ato e a prática de amar a negritude nos permitirá ir além e abraçar o mundo sem a amargura destrutiva e a raiva coletiva corrente. Abraçar uns aos outros apesar das diferenças, além do conflito, em meio à mudança, é um ato de resistência - Bell Hooks
O Coletivo Utopia Negra Amapaense vem a público repudiar toda e qualquer forma de violência praticada contra a população negra, em especial contra os grupos em vulnerabilidade social, como mulheres, LGBTQIA+, moradores das pontes e periferias, quilombolas, ribeirinhos, indígenas.
Nos últimos dias, temos visto o crescimento de comentários nas mídias sociais contendo notícias falsas (fake news), que estão sendo utilizadas com o intuito de descredibilizar, atacar e ridicularizar a luta contra o racismo social, institucional e a violência policial. Tais notícias estão sendo espalhadas por perfis mal intencionados, aparelhados para espalhar mensagens de ódio.
Queremos ressaltar que o caso de violência policial que causou a mobilização dos últimos dias ganhou repercussão nacional e internacional, sendo ainda mais grave por ter sido uma violência praticada por um funcionário público, pago com os nossos impostos. Foi uma agressão covarde contra uma mulher negra, Mãe e cidadã amapaense, que é trabalhadora e paga seus impostos.
Estamos aqui em defesa do direito à vida, direito à liberdade, direito de ir e vir, direito à segurança pública. Defendemos a legalidade, queremos que se façam cumprir as leis. Seja por quem for. As forças policiais não têm o direito de nos matar, de nos humilhar, de nos torturar, de nos marcar como alvos fáceis. Sua missão é servir e proteger, buscar a paz social. Cobramos que as ações de violência policial sejam devidamente apuradas pela corporação e pelos órgãos da justiça amapaense. Cobramos também que seja garantida à vítima e à sua família a proteção necessária contra ameaças vindas das redes sociais e das ruas.
Sociedade amapaense, nós não somos contra a polícia militar e aos servidores públicos que prestam serviço a essa instituição. Uma das reclamações que observamos é que os agentes de segurança pública e da polícia militar precisam de melhores condições de trabalho, precisam de apoio psicológico, o trabalho desses agentes é sobre estresse, logo, é preciso que todas (os) agentes tenham esse acompanhamento semanal, mensal e anual de apoio psicológico, que os nossos funcionários públicos de segurança pública tenham melhores condições de trabalho, e possam oferecer uma melhor qualidade no serviço, assim como, poder cumprir com os compromissos dessas instituições que está previsto na constituição. Os funcionários públicos da segurança pública não são os nossos inimigos – o nosso inimigo é o racismo estrutural. Não podemos confundir o debate. Precisamos focar no que é necessário e urgente. As nossas propostas para melhorar a vida de todas as pessoas são: É necessário um processo de reestruturação de toda a segurança pública do Estado. É necessário que a polícia militar reconheça que o seu modo operacional está imerso no racismo estrutural. A todas e todos amapaenses dessa terra, o racismo estrutural é uma violência que acaba por hierarquizar as pessoas na ideia de raça, e o racismo como uma tecnologia de dominação está imerso no nosso imaginário, ele norteai a política de segurança pública, o Estado e a mídia local. Logo, reconhecer que a corporação da polícia militar é influenciada pelo racismo estrutural significa assumir uma responsabilidade com a população negra que somos a maioria no Estado do Amapá. E assumir essa responsabilidade requer coragem, e essa coragem exige que façamos uma reunião com o comando militar, secretaria de estado da justiça e segurança pública do amapá e os (as) presidentes da Assembleia Legislativa do Estado do Amapá.
Não iremos aceitar as ameaças que os integrantes da Utopia Negra vêm sofrendo nos últimos dias, que fique escuro iremos tomar todas as medidas jurídicas contra as pessoas que tem nos caluniados, ameaçados e o racismo nos comentários nas nossas redes sociais. Lembrando que racismo é crime. E não iremos baixar a cabeça, pois a nossa luta é justa e lutamos pelos nossos. Pedimos que todos os coletivos e organizações que assinaram a carta de repúdio que compartilhe essa carta a sociedade amapaense.
Amar a negritude como resistência política transforma nossas formas de ver e ser e, portanto, cria as condições necessárias para que nos movamos contra as forças de dominação e morte que tomam as vidas negras – Bell Hooks
Utopia Negra - 24 de setembro de 2020
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